domingo, 6 de março de 2016

Orlando e a Dualidade dos Sexos

Vita Sackville-West e Virgínia Woolf
Orlando, obra semi-biográfica de Virgínia Woolf, é baseada na vida da amiga romancista, poetisa  e paisagista Vita Sackville West, com quem teve um affair. Elas faziam parte do Grupo de Bloomsbury, que reunia artistas e intelectuais britânicos.Vita era bissexual e viveu intensas paixões, a mais profunda foi pelo marido, Harold Nicolson. Numa época em que os direitos das mulheres eram rigidamente cerceados, um dos  lamentos de Vita era não poder herdar a mansão que nasceu.

No livro, publicado em 1928, Orlando é um jovem romântico e sonhador bem sucedido, amigo da Rainha Elizabeth I, que sobrevive por vários séculos: 350 anos. Se apaixona pela russa Sasha, um amor impossível. A desilusão o faz dormir por vários dias sem intervalos e, quando acorda, está inteiro. A desilusão com um ídolo poeta que debochou da sua poesia o faz dormir novamente e, quando acorda, Orlando é uma mulher. Dormir, aliás, não deixa de ser uma autodefesa, pois não há sofrimento quando dorme.

A transformação do corpo de Orlando em mulher é vista de forma natural. A dualidade do sexo o faz comparar como  é ser homem e ser mulher. Ao vivenciar outro sexo, acha admirável e, inclusive, prefere o feminino ao masculino, contudo percebe as dificuldades e exigências. Estar sempre bela era cansativo (levava mais de uma hora para arrumar o cabelo), as roupas fartas e desconfortáveis da época (ano de 1700) dificultavam até o salvamento caso fosse lançada ao mar em um naufrágio, a faziam dependente de alguém para sobreviver, pelo desconforto e peso da roupa. Ao chegar na mansão, descobriu não poder mais possuir os próprios bens, tomados pelo governo, visto que as mulheres não tinham direito à propriedade. Orlando é considerado um dos livros mais feministas de Virgínia Woolf, ao criticar, de forma um tanto irônica, o desconforto dos direitos limitados das mulheres.

A convivência na alta sociedade e admiração por alguns intelectuais também passou pela análise da personagem que, ao conhecer de perto os seres admirados, constatou serem enfadonhos. Pessoas com pensamentos mais simples eram mais agradáveis. Orlando é daqueles livros que destacamos diversos trechos por nos espelharmos em alguma passagem ou por nos fazer refletir. Não é uma leitura fácil, exige atenção do leitor pela história surrealista do personagem homem-mulher que teve a oportunidade de vivenciar os dois gêneros e viveu por séculos. Mesmo com as diferenças, a história mostra que, como homem ou como mulher, a essência de Orlando continuou a mesma.

Orlando foi adaptado para o cinema e passou por releituras com as obras Freak Orlando, de 1981, e Orlando, a mulher imortal, em 1992. Este último, estrelado por Tilda Swinton como Orlando, foi indicado ao Oscar de melhor figurino e ao de melhor direção de arte.

Tilda Swinton, no filme Orlando, a mulher imortal

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